sexta-feira, 24 de julho de 2015

O QUE É PSICOSSOMÁTICA

A psicossomática é uma ciência interdisciplinar que gera diversas especialidades da medicina e da psicologia para estudar os efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem-estar das pessoas. O termo também pode ser compreendido, tal como descreve Mello Filho 1 , como "uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as práticas de saúde, é um campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo, uma prática, a prática de uma medicina integral".

Significado

A palavra psicossomática, na visão dos profissionais de saúde que compreendem o ser humano de forma integral, não pode ser compreendida como um adjetivo para alguns tipos de sintomas, pois tanto a medicina quanto a psicologia estão percebendo que não existe separação ideal entre mente e corpo que transitam nos contextos sociais, familiares, profissionais e relacionais. Então, psicossomática é uma palavra substantiva que pode ser empregada para qualquer tipo de sintoma, seja ele físico, emocional, psíquico, profissional, relacional, comportamental, social ou familiar. No entanto, autores de suma importância na história e contribuição ao conhecimento científico em psicossomática relacionais, como George Libman Engel3 da University of Rochester School of Medicine a do Instituto Psicanalítico de Chicago sustentam que a palavra psicossomática deve ser empregada como um adjetivo, pois ela qualifica uma ação, uma postura e abordagem bio-psico-social ao processo saúde-doença. Importante assinalar que o Introductory Statement do primeiro número do Periódico Psychosomatic Medicine (1939), que é considerado o marco fundante da psicossomática, assinala que são os objetivos da psicossomática: estudar a inter-relação dos aspectos psicológicos com todas as funções terapêuticas e integrar as terapêuticas somáticas e psicológicas.

Perspectivas de interpretação/ intervenção e patologias

Na visão junguiana ou da psicologia integral, todo sintoma é psicossomático e pode ser um meio para que o processo do autoconhecimento possa acontecer. Entre outras possibilidades de interpretação de conflito postuladas pela corrente psicanalítica, que poderiam ser citadas, incluem-se as dificuldades de dar (expelir) e reter (absorver) explicitadas por Alexander (Alexander e Selesnick o.c.) nas doenças gastrointestinais; as concepções de que a mente, por não conseguir resolver ou conviver com um determinado conflito emocional, passa a produzir mecanismos de defesa com o propósito de deslocar a dificuldade e/ou "ameaça" psíquica para o corpo, chegando mesmo a indução de mutações físicas, oriundas do afeto doloroso.
o conceito de doença psicossomática persiste face à evidente relação de algumas patologias com fatores emocionais ou psicológicos como por exemplo:
O sistema límbico é a unidade responsável pelas emoções no cérebro humano
A demanda por intervenções psicológicas e estudos sobre causalidade por fatores emocionais nas alergias doenças auto-imunes como psoríase e vitiligo praticamente tem se constituído como uma nova especialidade ou ramo da medicina psicossomática a psiconeuroimunologia. O mesmo tem acontecido com o desenvolvimento das pesquisas sobre a multicausalidade de fatores determinantes nas diversas formas de câncer e originado inter-disciplinas como a psico-oncologia pediátrica ou simplesmente psico-oncologia.
Observe-se também que o surgimento dos sintomas psicossomáticos dependem e variam com pelo menos três fatores interdependentes, tais fatores estão diretamente ligados ao grande desafio de conceber, classificar e tratar tais patologias, haja vista que os sintomas podem variar dependendo do estilo de vida e idiossincrasias pessoais . Tal concepção acaba sendo a melhor explicação de patologias nas quais não consegue-se definir e provar cientificamente outra causa. São os referidos fatores:
  • Herança genética, que pode deixar os indivíduos mais predispostos para desenvolverem alguns tipos de doenças.

MEDO - O GRANDE INIMIGO



MEDO - O GRANDE INIMIGO
 
Afirma-se que o medo é o maior inimigo do homem. O medo está por trás do fracasso, da doença e das relações humanas desagradáveis. Milhões de pessoas têm medo do passado, do futuro, da velhice, da loucura e da morte. O medo é um pensamento em sua mente e você tem medo dos seus próprios pensamentos. Um menino pode ficar paralisado pelo medo quando lhes dizem que há um homem mau debaixo de sua cama e que vai levá-lo. Quando o pai acende a luz e mostra-lhe que não há ninguém, ele se liberta do medo. O medo na mente do menino foi tão real como se houvesse de fato um homem debaixo de sua cama. Ele se curou de um pensamento falso em sua mente. A coisa que temia, na verdade, não existia. Da mesma forma, a maioria dos seus medos não têm base na realidade. Constitui apenas um conglomerado de sombras sinistras e as sombras não têm realidade. Ralph Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse: Faça aquilo que você receia e a morte do medo será certa. Quando você afirma positivamente que vai dominar seus receios e chega a uma decisão definitiva em sua mente consciente, liberta o poder do subconsciente, que flui em resposta à natureza do seu pensamento. Vou descrever agora um processo e uma técnica que ensino há muitos anos. Funciona como um encantamento. Tente-o! Suponha que você tem medo da água, de montanhas, de uma entrevista, do público ou de lugares fechados. Se você tem medo de nadar, comece agora a sentar-se tranqüilamente durante uns cinco a dez minutos, três a quatro vezes por dia, e imagine que está nadando. É uma experiência subjetiva. Mentalmente você está se projetando como se estivesse dentro d’água. Você sente a friagem da água e o movimento de seus braços e pernas. É tudo tão real e vívido, constituindo uma alegre atividade da mente. Não é um devaneio inútil, pois você sabe que está experimentando em sua imaginação o que depois se desenvolverá em sua mente consciente. Você será compelido a expressar a imagem da representação do quadro que imprimiu em sua mente mais profunda. Essa é a lei do subconsciente. Você pode aplicar a mesma técnica se tem medo de montanhas ou de lugares altos. Imagine que está escalando uma montanha, sinta a realidade desse ato, aprecie o cenário, sabendo que, fazendo-o mentalmente, o fará depois fisicamente com facilidade e segurança. Você nasceu apenas com dois medos: o medo de cair e o medo do barulho. Todos os seus outros medos são adquiridos. Livre-se deles. O medo normal é bom, o medo anormal é mau e destrutivo. Permitir constantemente os pensamentos de medo acarreta o medo anormal, obsessões e complexos. Temer alguma coisa persistentemente provoca um sentimento de pânico e terror. Você pode superar o medo anormal quando sabe que o poder do seu subconsciente pode mudar os condicionamentos e realizar os desejos acalentados por seu coração. Dedique sua atenção e devote-se, imediatamente, ao seu desejo, que é o oposto do seu medo. Este é o amor que expulsa o medo. Enfrente seus temores, traga-os à luz da razão. Aprenda a sorrir dos seus temores. Esse é o melhor remédio. 

Texto extraído de:
O Poder do Subconsciente
Dr. Joseph Murphy

terça-feira, 5 de novembro de 2013

MÃE DESNECESSÁRIA

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase,  e ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.
Dê a quem você Ama: Asas para voar... Raízes para voltar... Motivos para ficar...

Dalai Lama

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O DESAFIO DO EDUCAR

O DESAFIO DO EDUCAR
“Educar não é deixar a criança fazer só o quer (ou seja, buscar a saciedade). Educar dá mais trabalho do que simplesmente cuidar dela porque é prepará-la para a vida. A vida da criança é regida pela vontade de brincar, de fazer algo. A cada movimento, está descobrindo a vida e os valores, num processo natural de aprendizagem.
Construir uma casa é muito mais fácil do que reformá-la. Reformar, no caso de um filho, seria o mesmo que sempre dizer “não” para algo que ele já fez muitas vezes. O melhor é ensinar aos poucos.
Quando quer fazer alguma coisa, a criança observa a reação dos pais; se ouvir um não, insiste. Quer testar se o que dizem é mesmo para valer – até incorporar a regra. Leva algum tempo, mas ela aprende. Então aquele critério de valor passa a fazer parte dela.
È interessante notar como desde tenra idade a simples repressão já não funciona. É preciso estabelecer uma diferença ao incentivar o comportamento certo. A simples aprovação é uma recompensa para a criança, como o silêncio é uma permissão.
Quando já adquiriu movimentos próprios, a criança precisa aprender ao que pode e o que não pode fazer. Ao caminhar, tem de saber que convém desviar-se da mesa e da cadeira.
E, quando a criança cair no chão, os adultos não precisam sair correndo, desesperados para socorrê-la, a menos que se machuque seriamente. É importante avaliar o que aconteceu de fato. Por estranhar a situação, a criança pode chorar sem nem mesmo estar sentindo dor. Use o método pare, escute, olhe e aja!
E pode nem ter sido um tombo. Crianças pequenas costumam cair por não saber parar. Ficam de pé, andam, disparam, mas não sabem brecar. Então, jogam-se no chão para parar. E a mãe e o pai correm a acudir, pensando que foi uma queda perigosa.
Elas têm de aprender que podiam não ter caído ou esbarrado na mesa. Não foi o chão nem a mesa que as derrubou. O tapinha que os pais dão na mesa – “mesa feia” - passa a idéia equivocada de que o agrado é que tira a dor, e dá a falsa sensação de que a criança está certa; O filho está sempre certo, e o errado é o outro, a mesa, o professor, o mundo?

A AFOBAÇÃO E A REAÇÃO EXAGERADA DOS PAIS GERAM INSEGURANÇA NA CRIANÇA

Também não é educativo que se limpe o caminho da criança, tirando-se mesas, cadeiras e tudo o que for preciso para que ela não se machuque. Talvez ela se choque uma ou duas vezes contra a mesa, mas aprenderá a ter cuidado.
Nas voltinhas futuras e maiores que os filhos vão dar, na escola, por exemplo, os pais não poderão dizer “Escola feia!” cada vez que eles não se saírem bem. Na adolescência, as voltinhas sociais serão ainda maiores, longe da vista dos pais, que não poderão dizer que “os errados são suas más companhias”. Quando seus pit stop em casa já não lhes satisfazerem, os filhos farão paradas em outros lugares. Então dependerão muito mais do que tem dentro de si e do que a sociedade lhes oferece”.
Içami Tiba

CRIANÇAS BEM EDUCADAS, ADULTOS FELIZES...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O FEMININO SAGRADO


Lucy Penna (*)
O que a mulher pensa de si mesma é catalisador dos novos rumos. Porque ela guarnece a vida. É a mulher que guarda o germe do futuro na travessia desta transformação política, social e econômica sem precedentes.   A maioria dos profissionais que cuidam das crianças em escolas, maternais, creches é feminina. Dependendo de como forem essas cuidadoras, serão o temperamento, a mente e o espírito dos futuros cidadãos.
Valorizar-se com mais clareza e consciência dos próprios caminhos é uma necessidade urgente, para que a luz da sabedoria feminina se acenda e ajude na construção da nova sociedade. Um rumo que se quer mais solidário, cooperativo, mais terno, com abundância em todos os sentidos. Cuidar dos necessitados, dos menores e dos carentes, eis fortes aspectos da energia feminina que transparecem na história. A psicologia admite que o homem e a mulher tenham potencial para desenvolver tais qualidades de caráter. Os valores que conduziram a sociedade atual, entretanto, foram outros. Privilégios e disputas de poder em todos os níveis superaram a atenção para com os necessitados, sejam crianças ou doentes. A medicina faz hoje um recuo histórico para resgatar o cuidado humanizado, adaptando-o à tecnologia moderna. A psicologia assume erros e lembra princípios antigos de tradições sagradas para ajustar seus conceitos sobre a mulher. Uma retratação necessária porque o descrédito das qualidades psicológicas “femininas” deixou o mundo sem encanto, a religião sem fundamento e a ciência sem esperança.
Como se aplica o feminino? A solidariedade começa na madrugada, quando a pessoa acorda, faz o café, levanta os filhos, abraça a família e sai para o trabalho. O ajuste diário entre obrigações familiares e externas é um desafio constante para todos, que cai, sobretudo nas costas, e no coração das mulheres. Mas seria diferente caso os homens também tivessem consciência da solidariedade. No centro das contradições duras da vida contemporânea há que anunciar bem alto os valores do feminino sagrado: cuidar de si mesmo e dos outros, com máximo carinho.
Não me refiro ao cuidado do aspecto externo, alvo de tanta propaganda. Cuidar de si é valorizar-se como um ser digno de amor. Quem ama a si mesmo não faz concessões ao tipo de consumismo que sangra o corpo e a conta bancária. A verdadeira autoconfiança da mulher está ancorada em saber que a força de propagação da vida está com ela. O homem precisa da mulher para conhecer os mistérios da vida. Meninos e meninas serão melhores se as cuidadoras da infância forem melhores pessoas, com auto-estima elevada, inteiras de corpo e alma. Vivemos ainda um círculo vicioso onde a mulher se banaliza em propagandas vulgares, com poses animalescas. A competição acirra o desejo de sustentar na juventude do corpo o fátuo fogo da felicidade. No limiar do terceiro milênio ainda se podem enganar mulheres que procuram valor pessoal por meio de técnicas cirúrgicas invasivas, como retirar costela, cortar órgãos, inchar os seios, procedimentos que resvalam fácil para resultados enganosos. A personalidade feminina se valoriza de dentro para fora, pela certeza de seu papel central na transformação da sociedade.

 O caráter do homem mais equilibrado articula bem as energias masculinas e femininas. O cuidado nos gestos, o carinho com os filhos e a atenção com os clientes são traços de personalidade que tornam um homem querido. E um profissional bem aceito, requisitado e disputado. Casar amorosidade com atividade, atenção com concentração, escuta com ousadia, satisfação com objetividade é saber integrar as energias femininas com as masculinas.
Quando o que hoje chamamos feminino e masculino for transformado e ampliado, a mulher e o homem se complementarão em beleza e amor. Em lugar de violentar-se para atender às expectativas do homem, a mulher deve procurar compreender o que é, verdadeiramente, ser feminina. O homem está confuso e sofre no corpo e na alma, como a mulher, da violência que é conviver com o lixo acumulado em séculos de uma cultura limitada e limitante.
 A profunda transformação que todos desejamos se apóia na auto-estima de cada um, e no fazer o bem, com boa vontade. A meta é sair da cruz onde estivemos pregados até agora, para ressurgir em alegria, paz e abundância.  Uma abundância que compreende o profano e o sagrado, o corpo e o espírito, a mesa, a cama, o vinho e o pão.

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(*)LUCY PENNA,  psicoterapeuta e autora de livros sobre a psicologia feminina, fundou o Núcleo Junguiano do Cerrado.(http://www.nucleojunguianodo/ http://mail.uol.com.br/compose?to=cerrado@gmail.com)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Deficiências - por Mario Quintana


"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.
"A amizade é um amor que nunca morre."

Alexsandra Thieghi
    Psicóloga

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A torneira seca... mas pior, a falta de sede !


A torneira seca... mas pior, a falta de sede !
Autor:  Fábio Almagro
 
A torneira seca
(mas pior: a falta de sede)
A luz apagada
(mas pior: o gosto do escuro)
A porta fechada
(mas pior: a chave por dentro).
José Paulo Paes
Em minha juventude li muita poesia; eu gostava muito, embora ainda não tivesse a bagagem necessária para um entendimento adequado e completo.
Quando li José Paulo Paes me senti profundamente atraído por esse poema rápido, pontiagudo, cortante que, em poucas frases, resume uma das grandes limitações do ser humano.
Olhando com os olhos de um psicanalista, vejo que muitas vezes, em função de mecanismos de defesa psíquicos, optamos por não querer ver, sentir, entender nada daquilo que está acontecendo conosco; olhar pra dentro pode causar muito desconforto e é mais fácil negar, racionalizar ou usar algum outro artifício inconsciente para fugir de nossas questões, de nossas mazelas.
Sempre que agirmos assim a infelicidade irá crescer; dia a dia, como se fossemos panelas de pressão com as válvulas entupidas; caminharemos na direção de explosões absurdas, explosões de tristeza e angústia, vidas vividas sem significado, com relações, via de regra, conturbadas, com sentimentos ambíguos, situações mal resolvidas, graus de ansiedade bastante altos, depressões, tudo caminhando na direção de possíveis somatizações, ou seja na direção de ficarmos doentes, de trazermos ao corpo as questões psíquicas que carregamos. (A palavra somatos, em grego, significa corpo).
A segunda forma de ver a vida caminha na direção do auto conhecimento, da admissão de nossos limites, de nossas mediocridades, de nossas feridas, de nossas questões mais profundas; mas, creiam em mim, isso dói e não é qualquer ser humano que tem condição, coragem e humildade para trilhar esse caminho. 
Certa vez, quando ainda jovem, eu fiquei por quatro anos em um processo psicanalítico extremamente profícuo e rico. Quando perguntei à minha analista qual era o motivo para termos algumas seções tão densas e outras tão leves, ela me disse: “Fábio, quando alguém chega da guerra e está em uma enfermaria, algumas feridas doem tanto que não podem ser tratadas; só podemos cuidar daquelas cuja dor o paciente possa suportar. Quando ele permite que sejam limpas, cuidadas, que o tecido necrosado seja retirado, podemos fazer  os curativos.Em algumas seções você sé permite que eu mexa em feridas superficiais, em outras, quando você se sente mais fortalecido, você me permite tratar de suas fraturas expostas, seus ferimentos mais graves, suas dores maiores, aquelas que realmente podem acabar mat ando você.”
Um amigo sem noção me disse nessa época; “O que é isso que você tem com essa analista? Uma amizade paga? Eu acho que isso é uma covardia, que se eu tenho problemas eu mesmo tenho que resolvê-los.” Pobre coitado, tem mais problemas do que imagina. O processo psicanalítico exige coragem, muita coragem, muita garra, para olhar para si mesmo.
Quando conversamos com amigos ou pensamos sozinhos em nossas questões, conseguimos nos esconder de nós mesmos, conseguimos racionalizar situações, fugimos do contato com as questões efetivamente críticas de nossas existências. Sozinhos, percorremos os caminhos que queremos, e dos amigos, ouvimos coisas confortantes, ou palpites mal embasados que desconsideram nossos próprios conteúdos psíquicos.
Na técnica psicanalítica, o analista nos ajuda a buscar por nossos monstros, elaborar nossos conteúdos e a resignificar as nossas questões mais profundas e pessoais. Não conseguimos fazer isso sozinhos e na grande maioria das vezes, os amigos só atrapalham, por melhor que sejam as suas intenções.
Todos temos nossas mazelas, falhas em nossa criação, questões estruturais, questões afetivas, pequenas ou grandes mediocridades.
Uma vida feliz não é aquela na qual temos uma posição social interessante ou uma vida na qual procuramos tampar nossas feridas com curativos infectados: carros novos, compras desnecessárias, viagens, “lenitivos”, anestésicos para nossas almas.
Uma vida feliz começa por encontrar a si mesmo e por admitir nossa profunda insignificância.
Vamos fazer uma analogia; quando Gil (Gilberto) diz :
“Se eu quiser falar com Deus... 
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar”
Se quisermos “falar” com nós mesmos, teremos de passar, da mesma maneira, por tudo isso, e tudo isso dói, dói profundamente, mas é a única maneira de chegarmos ao tão sonhado auto conhecimento.
Enfrentar nossas mazelas, deixar de lado nossos orgulhos, perder ilusões de que em algum sentido somos melhores do que qualquer um de nossos semelhantes,deixar títulos de lado e apesar de tudo e do mal tamanho... alegrar nossos corações.
Creiam em mim, nada é mais pobre, mais triste, mais vulgar do que a superficialidade, a mediocridade.
Nada é pior do que fugir de si mesmo, nada é mais triste do que;
 
A torneira estar seca, mais não termos sede, a luz estar apagada e gostarmos do escuro, a porta fechada mas mesmo dispondo da chave, preferirmos ficar trancados.
Tudo na sociedade moderna nos induz, nos propõem uma vida esvaziada de sentido, relações descartáveis e a busca desesperada por posição e por dinheiro.
Novamente eu peço... creiam em mim: É uma armadilha, fujam de tudo isso; pois não é por esse caminho que uma vida se justifica. Fujam da mediocridade, valorizem a idéia de uma formação humanística, para que dela advenha a ética da qual sentimos tanta falta em nossa sociedade.
Voltando ao texto de Gil, curioso pensar na frase célebre de Sócrates : “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a Deus” ... São processos tão semelhantes, que ao passarmos por um, teremos chegado ao outro. Linhas paralelas que se encontram no infinito.
 
 
 
Por: Alexsandra Thieghi
             Psicóloga